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Dr. Fabinho salvou o fim de semana!



- O fim de semana perfeito! - pensou JP após ler as previsões do tempo, já que ia viajar com a namorada para Ilhabela. Tinha feito o check up do carro, confirmado a reserva da casa e comprado novas roupas de praia.

- Dois dias de paz e liberdade!


Foi até a geladeira, encheu um copo com água gelada e tomou num grande gole. Mal a água entrou na boca, sentiu terrível pontada nos dentes e deu um grito. À medida que pulava pela cozinha e a temperatura voltava ao normal dentro da boca, a dor foi diminuindo.


No espelho do banheiro ficou tentando ver se tinha alguma coisa errada com os dentes, mas parecia tudo normal.

- Só falta esse dente começar a doer lá em Ilhabela - pensou já preocupado. Foi trabalhar.


- Tudo certo pro fim de semana JP? Vou estar em São Sebastião, pertinho de você – perguntou João, vizinho de mesa no escritório.

- Legal!!! Dá um pulo na Ilhabela, véio! Faremos um churrasco! Deixo a cerveja gelando e picanha no ponto.


Foi aí que se lembrou da dor no dente. Viu-se com a lata de cerveja na mão sem poder tomar. Seria o fim do fim de semana! Mas, ainda era quinta feira. Ia viajar à noite do dia seguinte, então dava tempo de ir ao dentista resolver a parada.


- Tem que ser hoje... ai meu Deus! - pensou enquanto ligava para Glorinha, sua namorada, buscando nela um pouco mais de coragem. Explicou o que tinha acontecido. Glorinha escutou e após alguns segundos teatrais de silêncio, disparou:

- Bem feito senhor João Paulo! Há quanto tempo estou te falando pra ir ao dentista? Já ligou pro Dr. Fabinho?

- Num liguei. Tô com vergonha do Dr. Fabinho. Faz tempo que não apareço. O João falou que tem um dentista aqui no prédio, acho que vou lá...


- Não senhor! – interrompeu Glorinha - vai no Dr. Fabinho e tem outra: vai comigo, que é pra garantir.

- Num precisa, amor...

- Estou ligando lá. Seu cagão... – e desligou encerrando a conversa.


Dez minutos depois a mensagem de Glorinha veio pelo Whatsapp, seguida do emoji vermelho enfezado:

- Dr. Fabinho 17:00. HOJE!! Passo aí pra te pegar.


Às quatro e quinze, Glorinha chegava para transportar o paciente mais difícil do mundo. Seu medo de dentista já era lendário na família e entre os amigos. Meia hora depois estavam sentados na recepção, aguardando serem chamados.

- Vou entrar sozinho. – avisou JP.

- Vou entrar também pra segurar sua mão. Assim você não chora.

- Não sou criança... – murmurou JP fechando a cara.

- E depois, preciso contar umas coisas pro Dr. Fabinho.

- Que coisas? Tá louca...

- Que coisas João Paulo? Você me pergunta “que coisas”? Vou refrescar sua memória: não usa fio dental, escova malemal e ainda quando dá na telha. Vive chupando essa balinha de hortelã pra disfarçar o bafo. Tá bom pra começar?

- Que saco Glorinha! Olha, você não vai entrar! A boca é minha.


Daí começou uma discussão acalorada, que só foi interrompida quando o Dr. Fabinho apareceu. Ficaram em silêncio na mesma hora.

- Oi Glorinha! Oi JP! Tudo bem com vocês?

- Eu tô ótima, mas o JP não – foi logo explicando a Glorinha.


JP fechou a cara e o Dr. Fabinho, que já tinha sacado a treta dos dois, foi logo tratando de separar o casal.

- Vem comigo JP.

- Posso entrar também? – perguntou Glorinha com cara de pedinte. – O JP é que nem criança...

- Quando trato das crianças, as mães não entram! Relaxa Glorinha. Deixa o JP comigo – explicou Dr. Fabinho levando JP para dentro do consultório. Glorinha ainda tentou falar alguma coisa, mas os dois já tinham desaparecido.


- Dr. Fabinho, você salvou minha pele. – disse o JP já sentando na cadeira.

- Eu já conheço os dois, então é melhor tirar o fósforo de perto do rojão. Mas, me conta: o que está acontecendo com você? – perguntou Dr. Fabinho enquanto colocava o guardanapo no paciente impaciente.


JP contou do pesadelo, da dor e deu todos os detalhes (com certo exagero) do seu martírio das últimas horas. Dr. Fabinho examinou, testou alguns dentes e fez uma radiografia.

- É muito grave doutor? – perguntou JP todo medroso – É que vou passar o fim de semana em Ilhabela.

- Vai ter que fazer um tratamento de canal neste dente. A cárie está muito profunda.

- Canal? Meu Deus! Num vou poder viajar? – desesperou-se JP.


- Calma. Vamos por partes. Como está doendo, vou primeiro fazer um curativo pra desinflamar. Não vai doer mais e você pode viajar, mas...

- Lá vem. Mas o quê doutor? – perguntou JP.


- Temos que fazer um trato.

- Fazemos qualquer negócio! – brincou JP – Tudo por Ilhabela que me espera com sol, cerveja e churrasco.


- Vou te mostrar uma coisa. A última vez que esteve aqui foi há dois anos quando fiz uma radiografia desse dente – disse o Dr. Fabinho colocando as radiografias no negatoscópio.

- Naquela época esse dente não tinha nenhuma cárie e hoje tem uma cárie gigante. O que aconteceu? – perguntou o Dr. Fabinho muito sério.


- É que eu tomei muito antibiótico quando era criança. Meus dentes são fracos, Dr. Fabinho...

- Não.

- Não?


- Vou te explicar. Seus dentes não são fracos e o antibiótico é inocente. Para essa cárie aparecer aconteceram 3 coisas. Primeiro você come muito açúcar. Ainda tem aquela mania de chupar bala de hortelã o dia todo?

- Um pouco... – mentiu JP.


- Segundo, você não está higienizando a boca direito. Tá escovando quantas vezes por dia?

- Só de noite. Sabe como é, de dia é aquela correria Dr. Fabinho, não dá tempo.

- Hummm, aí fica na balinha para disfarçar o hálito, certo?

- Certo.

- Depois de escovar, passa o fio dental?

- De vez em quando.

- Fala a verdade JP...

- Não uso doutor, não consigo passar aquele fio. Falta de habilidade.

- Pela quantidade de tártaro eu já sabia que tua escovação está bem deficiente.


- E a terceira coisa, Dr. Fabinho? – perguntou JP fugindo do assunto.

- A terceira coisa é que você demorou muito para sentar nessa cadeira JP. Dois anos é muito tempo para o seu perfil de alimentação açucarada e de higiene bucal deficiente. Se tivesse vindo antes, eu teria captado essa cárie no início e não teria chegado nesse ponto.


- E qual o trato que vamos fazer?

- Ah sim! Vamos lá! Você não vai poder mastigar em cima do meu curativo, mas a cervejinha gelada está garantida. Fechado?

- Fechado! Pode deixar, fico só na picanha, no cupim e no pãozinho com alho! E só mastigo do outro lado da boca. Palavra de escoteiro doutor! – respondeu JP todo contente.


- Tem mais.

- Manda!

- Na segunda-feira venha fazer o tratamento de canal. Dá pra fazer tudo numa única sessão. Se não fizer isso o dente vai voltar a doer muito, mas muito mais do que agora.

- Pelo amor de Deus, chega de dor! Fechado! Pode deixar que eu não falto.


- Tenho certeza que não vai faltar. Quer ver? – disse o Dr. Fabinho enquanto pegava o interfone para falar com a secretária - Veja um horário para o JP fazer um canal na segunda-feira com o endodontista... Isso, sessão única. Ah sim, passe o horário para a Glorinha.

- Cheque mate doutor! – exclamou JP.


- Trato feito? – Disse o Dr. Fabinho estendendo a mão para um aperto.

- Combinado – respondeu JP apertando a mão do Dr. Fabinho.

- Então relaxa e vamos salvar seu fim de semana! – disse o Dr. Fabinho reclinando a cadeira e colocando as luvas.


Alguns minutos depois, JP voltou para a recepção com a boca anestesiada, mas feliz por ter se livrado da dor.

- Espere passar a anestesia pra comer e bom fim de semana para vocês! – Despediu-se o Dr. Fabinho do casal briguento que agora saia de mãos dadas.


- Até segunda! – Disse a secretária.

- Até segunda! – respondeu Glorinha.

- Você vem também? Não precisa, amor...

- Precisa sim. Crianças só vão ao dentista acompanhadas dos pais ou responsáveis.


Vitor Ribeiro

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